coração

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Padre, obrigado...




"Talvez seja por isso que muitos dos que vêm a mim saem gratos mesmo quando me atrapalho nos conselhos. Às vezes não digo absolutamente nada de válido,e, mesmo assim, ouço: ''Padre, obrigado por ter me ajudado tanto!''.
Ouvir. Foi só o que pude fazer. Olhei tentei achar. Risquei o chão imaginário, encorajei,sem condenar. As pessoas já estão por demais condenadas. Não precisam de juízes que as indiquem ao inferno ou ao paraíso. Precisam apenas de alguém que tenham disposição de saber quem elas são, de que dores sofrem, de que cores gostam e que números calçam nos pés. Só depois disso o Evangelho é possível, palpável, concreto e existencial. Mora longe de mim a pretensão de impor um modo de viver. Isso porque Jesus nunca foi modelo impositivo. O que o tornava atraente era sua capacidade de mover o mundo por meio de proposta. Se quiser, se voltar, se amar. Sabia convencer sem impor, porque conhecia com profundidade os mistérios do coração humano. Só quem mergulhou nesses mistérios pode compreender e acolher o e o incoerente, o imperfeito, o precário e o ilógico. Já ouvi muito na vida. Assim se explica o meu choro de hoje. Nada em mim se apaga, mas se sintetiza aos poucos,pelo mistério de ser parte do tempo, de se histórico. Choram pelos que não significam muito, pelos que tocaram o fundo da solidão. Pelos que sofrem a dor não localizada, o incômodo não identificado. Permaneço a riscar a terra, imitando o homem que me inspira, o Deus que me santifica no processo de humanizar. Gostaria de ter acesso àquilo que ele escreveu no chão. Aquele bilhete, aquela fórmula ainda secreta, desconhecida e com certeza profundamente reveladora.
O único bilhete escrito de próprio punho pelo Cristo. Palavras escritas na terra, motivadas pela condenação pública de uma prostituta.
Entre o olhar serenamente indignado e o chão empoeirado da Galileia- por ele contemplado-, pairou opinião de Deus. Naquele pequeno espaço entre chão e olhos, uma sarça de significados ardeu sem se consumir. Deus escreveu na terra, pelo toque dos seus dedos, uma sentença de misericórdia.
Bendito seja o chão que se fez pauta para a poesia divina."
(Pe. Fábio de Melo - Tirado da página Maria Cristina Medeiros)
(Texto do livro: ''É Sagrado Viver'')
 — com Fábio de Melo.

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